PERSONALIDADES
HOMEOPÁTICAS
O ÓDIO
“Precisamos
falar do Ódio, para a Saúde do Amor”
Elisa Costa
Nos últimos anos, o Brasil tem
experimentado muitas sensações coletivas. Sentimentos que mexem com cada um, na
sua identidade coletiva. Dentre elas o ódio. Um sentimento, uma sensação e uma
realidade, seja nas construções pessoais, seja nas coletivas.
Durante os últimos anos, para ser
mais precisa, desde 2014, algumas expressões como indignação, receio, tristeza,
angústia e temor pelo futuro, foram ditas incessantemente sobre as condições de
vida. Para justificar a própria frustração e o próprio medo, explode a raiva
coletiva. Sentimentos e realizações pessoais, tais como amor, alegria,
sentimento de segurança, confiança e estabilidade passaram a ser o segundo
assunto, nas ruas, nas festas, nos bares e igrejas.
Na contramão, alguns sentimentos
coletivos passaram a circular em todos os lugares, padarias, transporte, igrejas,
trabalho, bares e restaurantes e junto com eles uma enorme instabilidade emocional
explodiu de forma individual e coletiva, mas, tudo isso alimentado e nutrido
pela mídia televisiva, pelos jornais e pela mais nova arma de “controle de
massa”: as redes sociais.
Um sentimento dúbio: amor e ódio
começam a escrever, mais uma etapa, dessa velha e conhecida odisseia. Só que
desta vez, no Brasil. Tão surpreendente como a cor dos olhos de uma criança
quando acaba de abri-los, tão surpreendentemente avassalador, tal qual uma
tempestade tropical, trazendo aquelas memórias que por não termos tido a
coragem necessária de ensina-las através dos anos e lidar com todos os
sentimentos que a história acumulou, acordamos e nos deparamos com uma enorme
sensação de espanto, enquanto atônitos, assistimos uma exploração de valores,
conceitos, supremacias e achismos.
Tivemos que lidar com isso, cada
qual ao seu modo e assim o amor ficou machucado.
Já repararam que em toda a
história, temos fleches luminosos de amor e odes inteiras de rancor e ódio? Não
sei se já viram uma taça de cristal ser feita, com sua exuberância e
temperança, assim como não sei se sabem o quão pequeno espaço de tempo se
precisa para quebrá-la.
Podem se lembrar daquele segundo
de alegria infinita e de prazer imenso, que nasce meio que de repente e da
repentina explosão de raiva que acontece quando somos contrariados? Sim, são
sensações da adolescência. Mas muitos de nós cultuamos essas sensações e as
chamamos de memória.
Assim foram os dias... rápidos,
diferentes e surpreendentes.
Nunca conheci tantos
especialistas em política.
Já nos últimos 2 anos tudo isso
se intensificou. As diferenças de pensamento, ideias, ideais, posturas sociais,
gostos e vontades receberam uma dose extra de amor e de ódio. Sim...porque no
fundo temos uma linha que começa no amor (a natureza brota, nasce e explode
exuberante), daí vem tudo aquilo que os adultos acumulam e não sabem onde
colocar. Começamos a odiar.
Hoje, o amor está ferido de ódio,
de morte.
Amar é natural, ódio é aprendido.
Ok ... se você pensar que isso não é novidade nenhuma; mas o que você talvez não
tenha se atentado é que o ódio adoece. Uma pessoa, uma nação. E sabe de uma
coisa, nosso país adoeceu.
Pensem comigo: depois do ódio,
existe a fuga e o desespero, porque ele sabe que destruiu algo que não
pertencia a ele. Depois do amor, existe aconchego, carinho, sorrisos e
presença. Não há porque fugir.
Penso que essa seja uma doença/desequilíbrio
bem marcante em relação aos sintomas apresentados.
Sintomas principais:
Se manifesta de forma abrupta e
violenta,
Incapacidade de raciocínio claro
e objetivo,
Força física desmedida, sem
controle de se mesmo,
Cansaço extremo, dores musculares
severas,
Câimbras, pressão arterial
descontrolada, irracionalidade,
Sono perturbador, pensamento
repetitivo de destruição,
Incapacidade de reconhecer a
necessidade de ajuda,
Necessidade de aprovação que
respaldem a sua atitude,
Covardia, desprezo pela
humanidade e por todos que se opõem as suas ações,
Dificuldade de relacionar no
coletivo social, isolamento,
Busca firmar laços de ação com
outros que pensam e agem igual, mas não criam laços afetivos,
Gosto ácido, infecção urinária,
Tendência ao alcoolismo,
Incapacidade de controlar suas
expressões: fala e audição,
Dificuldade nos relacionamentos
afetivos,
Embotamento cerebral com extrema
dificuldade de interpretação de fatos e de lidar com memórias e sentimentos na
relação espaço/tempo.
Enquanto isso no reino da
Dinamarca...Alguns apostaram que era apenas uma virose passageira – mal-estar,
um pouco de febre, coisa leve, uma leve diarreia e tudo bem. Vai passar. Outros
acreditaram que era necessária uma pequena análise e que logo o cenário se
estabeleceria com novos exames, algumas mexidas na alimentação e uma dieta
severa. Tiveram também os que desenharam um futuro tenebroso, mas seria melhor
esperar e tratar de forma a reduzir qualquer chance de contágio (chamo isso de
matar barata com um canhão). Só que o ódio já tinha dado sequelas e graves.
Em pouco tempo a tampa da panela
explodiu e feriu muita gente. As queimaduras foram sérias, graves e como tal,
irá demorar muitos anos para cicatrizar. Não adianta fazer plástica. Eis uma
doença com a qual a humanidade terá de trabalhar nas bases.
Pensaram que a doença poderia ser
curada através de crenças religiosas, mas precisamos de fé no amor e isso não
se compra em farmácias, isso se aprende e se vive. Resolveram tratar as
consequências da doença e não a causa.
Por fim a imprensa noticiou e
espalhou o pânico, reproduzindo e dando alertas de epidemias que nunca
aconteceram e arrematando tudo isso, os diagnósticos falsos fecharam e
anunciaram a morte prematura de democracia.
Precisamos aprender com nossos
próprios erros. Mas não podemos adoecer nosso país. Precisamos salvar o amor,
precisamos urgentemente parar de contaminar nossas crianças, a nós mesmos e ao
país.
O ódio dói – quando achamos que
acertamos o alvo, fruto da nossa impotência, no fundo estamos produzindo
efeitos colaterais,
O ódio extermina – nos retira a
humanidade, nos coloca imóveis e sem atividade cerebral,
O ódio machuca – fere de morte
pessoas inocentes que sequer conhecemos, simplesmente porque ficamos cegos.
O ódio nasce da insegurança e do
medo de não sermos aceitos. O ódio nos torna feios, porque não há forma, há
deformidade. O medo nos inferioriza, então a saída é o ódio e com aquela
sensação de soberania diante da vida (ou seja, do amor).
Por isso mesmo não existe remédio
para o amor, não há homeopatia para ele, ele não é uma doença, não precisa ser
curado, não adoece, não morre, não corrói e nem precisa se afirmar acima de nada.
Desde que a Medicina começou a
ser escrita, vemos os sentimentos sendo nomeados, os humores, as paixões e não
é do nada que atualmente, as condições de depressão/solidão são descritas como
a doença do século no Planeta. Ex. a depressão se segue após o ódio.
Assim sendo, quais seriam as homeopatias
aplicadas? E como poderíamos classifica-las: causa ou efeito?
Vale a pena lembrar, que a
cultura do ódio, portanto a cultura desse adoecimento violento, pode ser e é
contagioso.
Estabelece padrões destorcidos de
uma realidade vista através imagens e sensações imprecisas.
Em tempos de afetos tristes, de
tanto medo, de tanta violência, cuidemos uns dos outros, sejamos Doutores da
Alegria, sejamos, Médicos sem Fronteiras, sejamos parte de um Brasil que
desnuda essa pretensa cegueira e amplia a visão para além do caos.
Ainda somos um país que precisa
combater o zika vírus e a malária, a diarreia e a gravidez precoce. Somos um país
que ainda luta na fila do SUS contra racismos institucionais, que vê chegar o
Sarampo de novo pela porta da frente. Ainda precisamos aprender a ser gente.
Precisamos sim falar de como
vencer essa doença a qual chamamos de ódio, precisamos discutir isso a nível de
Ministério e de Estado brasileiro, precisamos falar de Saúde Mental e de como
não negligenciar suas consequências quando tratarmos da Saúde Coletiva.
Precisamos falar disso nas Universidades e nas escolas.
A medicina sempre avançou com
desastres naturais, na luta e no combate as epidemias, coisas que chegam do
nada e assolam a humanidade, não precisamos aprender mais sobre a medicina de
guerra com a qual todos nós tivemos que lidar no Holocausto. Medicina foi feita
para salvar vidas, não para ceifar a dignidade humana. Quem pensa que as duas
são distintas, se enganaram, são irmãs de trajetória e não podem se odiar
jamais.
Tancredo
Neves, após sua eleição à Presidência da República no Colégio Eleitoral, no
plenário da Câmara dos Deputados, Brasília (15/01/1985)
#Ódionão