Conversa de Romi ... com Maria Nicoliche, Psicóloga, formada pela Faculdade Filosofia, Ciências e Letras São Marcos / SP, Naturopata, Acupunturista e mulher de etnia Rromaní.
Precisamos começar a falar de assuntos que estão na nossa ótica de vida e é isso que vamos fazer...
Maria Suveta Nicoliche
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Hoje
vou abordar um tema que particularmente julgo ser de suma importância:
“A saúde
ginecológica da mulher cigana”.
Por conta das nossas
tradições, a moça cigana deve permanecer virgem até o seu casamento (que pode
ocorrer entre 14 – 22 anos ou mais, depende do grupo familiar e subgrupos (Rom,
Calom). Pois bem, em virtude disso, não
é habitual uma moça solteira passar por uma consulta com ginecologista, a menos
que apresente algum corrimento, ou sintoma similar. Nesse caso, é acompanhada
por sua mãe, para um exame “superficial”. Como não há prática sexual, as moças
não fazem exames de rotina, julgando desnecessário.
Mesmo depois de casadas, poucas se submetem
a exames rotineiros, como: Papanicolau, ultrassom transvaginal, mamografia, ultrassom
mamário e outros mais, tão importantes para detectar doenças como câncer, DST
etc.
Normalmente esse acompanhamento só ocorre
durante a gestação ou quando há alguma dificuldade para engravidar!
Com isso, o que poderia ser inicialmente
tratado ou evitado...acaba se agravando! Muitas mulheres só se dão conta de que
estão doentes quando os sintomas já estão gritantes.
Sem falar que muitas não casam e permanece
virgem, mesmo com idade avançada.
Eu mesma conheço algumas que nunca se
submeteram a exame ginecológico nem fizeram exames preventivos. Consequentemente, hoje apresentam mioma em
estágio avançado, endometriose e câncer. Sem falar das enfermidades
consequentes da menopausa, como por exemplo, osteoporose.
É fundamental que haja uma conscientização
por parte da colônia para que seja feito periodicamente um acompanhamento
médico.
É
preciso deixar claro que mesmo sendo solteiras e virgens, podem apresentar doenças
ginecológicas, que devem ser tratadas.
Também é preciso atentar quanto ao pudor de
ser examinada, principalmente se for por um médico ginecologista! Talvez,
o caminho inicial seria buscar junto à rede pública de saúde, um meio de
inserir médicas ginecologistas para atender a esse grupo específico e
paralelamente, introduzir palestras para informar e tirar dúvidas.
Aproveito para narrar um fato trágico e
cômico ao mesmo tempo: Fui visitar uma senhora conhecida, solteira e virgem
(digo senhora em função da idade, 67 anos). Ela estava internada, muito
debilitada por conta de infecção urinária e precisava colher urina para exame.
Como não estava urinando, a médica pediu para que fosse introduzida uma
sonda. Seu irmão ficou todo apavorado e
não deixou a enfermeira fazer o procedimento, alegando que ela era virgem! Eu cheguei bem na hora e confesso que fiquei
desconcertada! Primeiro tive que
explicar-lhe que não havia problema algum, já que são orifícios diferentes e
depois tive que autorizar a enfermeira a dar sequência ao exame. Diga-se de
passagem, ela só realizou o procedimento após ter me pedido para ficar junto e
ver onde seria introduzida a sonda. Dá
pra imaginar a situação!
Por incrível que pareça, ainda existem
situações como essa. É lamentável que a
desinformação e a importância de manter a virgindade ainda prevaleça sobre a
saúde e sobre a própria vida!
Psicóloga e Terapeuta Holística: Maria
S. Nicoliche.
AMSK/Brasil
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Com o avanço no SUS e no MS, podemos dizer que hoje temos material de estudo e pesquisa para aprofundarmos o assunto. Com a chegada de estudos feitos por universidades brasileiras, as áreas de saúde coletiva, enfermagem e afins, começaram a pesquisar o tema. Avanço para a matéria. Nosso intuito é contribuir com esse avanço e ajudar num sistema mais justo e verdadeiro. Na área da saúde, o estereótipo também ganha suas marcas, o que prejudica muito qualquer avanço, mas, para mudar, temos que começar.Leiam as tags: SAÚDE DOS POVOS CIGANOS e MEDICINA E HOLOCAUSTO
http://www.convibra.com.br/upload/paper/2012/69/2012_69_4306.pdf
http://homeopatiaparamulheres.blogspot.com.br/2014/06/povo-cigano-acesso-humanizado.html
http://www.defato.com/noticias/39335/sesap-debate-a-saa-de-de-inda-genas-e-ciganos-do-rn
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2736.pdf
http://www.convencionsalud2012.sld.cu/index.php/convencionsalud/2012/paper/viewFile/326/111
http://homeopatiaparamulheres.blogspot.com.br/p/saude-dos-povos-romani-ciganos-no-brasil.html