O processo adoecedor da Guerra
“A noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios, assustadora, exceto pela garantia das súplicas....”, publicou a poetisa no dia 8 de outubro. Eu quis escrever sobre ela e para ela, como se de uma certa forma ela pudesse ler.
Esse sentimento que ela externou no dia 8/10 não é isolado. Único. Ele chegou a muitas de nós. Talvez não se tenha ideia do quanto é difícil ser mulher, pertencer a um recorte étnico, ser poetisa e construir uma identidade e referencia mundial a meio a violência extrema. antes dos bombardeiros, existia uma situação de prisão e apartheid a vistas do mundo. De um mundo que não quis ver, nem ouvir, muito menos se posicionar.
A poeta e romancista palestina Heba Abu Nada, autora do romance Oxygen is Not for the Dead (2017) - obra sem tradução para o português (espero que logo tenha) - , morreu sob bombardeio em Khan Yunis, na Faixa de Gaza, na sexta-feira (20), anunciou o Ministério da Cultura palestino.
Homeopatia dos Sentimento: #Gaza
Com os olhos inebriados, parados, aterrorizados, chocados,
inertes, apertados, atentos, indignados, enxarcados ou de tantas outras formas
de descrição, o mundo acompanha as cenas inimagináveis de um verdadeiro
genocídio, perpetrado contra o povo palestino.
Nas últimas semanas, há quem zombe ou faça paródia das cenas
de violência ou de situações graves de sobrevivência e restrição de alimentos,
água e luz. (infelizmente há sim e são muitos)
Os atingidos são bebês, crianças, jovens, mulheres, homens e
idosos.
Os atingidos também são os reféns aprisionados pelo Hamas e
os aprisionados por Israel (neste caso, considera-se para além dos palestinos
capturados, os reféns dos últimos anos, especialmente crianças, e confinados a
prisão).
Os últimos anos não tem sido fácil e especialmente para dois
grupos a quem vou dirigir o tema:
1.
Os
que possuem parentes ou amigos nessa situação de massacre e;
2. Os
que lidam com isso em suas áreas de trabalho, os mais diversos profissionais, os
defensores, professores das mais diversas áreas, humanistas, religiosos e todos
aqueles que assistem de suas casas e em seus aparelhos eletrônicos.
A pandemia inaugurou um tempo televisionado de brutalidade,
arrogância, desumanização e crueldade que podíamos ver e ouvir apenas em
escassas reportagens, filmes, livros e relatos outros. Há uma capacidade de
juntar desinformação a endurecimento do senso humano com ares de “afastamento
saudável” das violências. Isso não é comigo. Sororidade é mimimi. Se está com
dó, pegue para você. As grandes tragédias também estão nesta lista, onde
muitos, perdem absolutamente tudo e precisam recomeçar.
É verdade também que para sobrevivermos, precisamos escolher
diariamente com o que vamos lidar. Muitas (os) de nós fazem isso
automaticamente e outros simplesmente ignoram tudo e seguem suas vidas. Enfim,
não há receita de bolo para nada, todos nós temos que descobrir como isso vai
funcionar na lógica dos dias.
Entretanto, é inevitável a percepção de que a violência está
cada vez maior, mais perto e mais cruel. Ninguém escapa a ela. Mesmo os que se
negam a vê-la.
Uma guerra nunca é justa e com elas, muitos recorrem a
estratégias as mais diversas e variáveis possíveis. Precisamos pensar no
cuidado.
Importante também salientar que “sentimentos” de impotência,
de angústia, tristeza profunda e revolta são absolutamente comuns, assim como,
o sarcasmo e a indiferença a condição de fragilidade humana.
Nota: se não conseguir encontrar um equilíbrio de convivência
saudável, não deixe de procurar ajuda profissional especializada. Saúde mental
não é frescura e nem falta de fé.
Os florais: 3 sugestões.
O Rescue Remedy é o carro chefe – o susto, o terror, a
dor da perda. A agressão do momento violento, tudo isso é Rescue. Ele
ajuda a segurar o baque e o mais a contento que podemos usá-lo é sublingual – 2
gts de 1/1 hora no primeiro dia.
Oak
funciona bem para quem tem o peso da resolução nas costas. O peso das
responsabilidades.
Um complexo que pode ser feito em farmácias de manipulação
que é Vervain, Walnut, Olive e Oak – mais adequado para ajudar quando a
tristeza segue junto com o sentimento de impotência.
Os exercícios:
Os alongamentos e as caminhadas, assim como, a natação ajudam
muito. O movimento do corpo saindo da inércia, traz oxigênio, sentimento de
estar viva (o), renova de certa forma o olhar e acorda o corpo.
A violência costuma trazer a paralização/inércia ou a
tormenta, qualquer atividade que te faça – por isso citei as três – buscar um
equilíbrio, seja nos passos de uma caminhada, nas braçadas da natação ou nos
alongamentos sequenciados, trazem uma sensação de continuidade e a natureza
humana vai remetê-la a uma certa segurança de si mesmo.
Os sucos:
Os principais da estação, eles não estão aí à toa, possuem um
propósito. Use-os. Se a tensão te prejudica o intestino, o suco de mamão é o
grande aliado, se a pressão cai demais, vá de água de coco e suco de laranja e
se a pressão aumentar, busque os sucos mistos de laranja/cenoura e limão ou
laranja com gengibre ou mesmo um suco de beterraba. O que mais importa é que
você vai alimentar seu corpo, dar leveza ao processo digestivo e se hidratar.
Água é imperativo – pode ser com gotas de limão, pode ser
saborizada, natural ou mesmo água com gás – na medida certa. O importante é que
não deixe de se hidratar.
Nota: a história de tomar uma bebidinha para relaxar já não
cola mais. Modere. Entorpecer as ideias nunca ajuda. Ela não some e quando
volta pode ser com uma tremenda dor de cabeça.
Chás: frios ou quentes
Chá de hortelã/Chá de camomila: são tradicionalmente usados
para essas ocasiões. Sabedoria da Medicina complementar e fáceis de encontrar.
O aroma já remete a tranquilidade. Durante o dia gelado e a noite morninho, são
boas opções.
Chá de alecrim – prefira o seco (o gosto é melhor). Ele ajuda
muito a urinar e tem inúmera possibilidades de ajuda. Leia aqui: https://www.unimed.coop.br/viver-bem/alimentacao/beneficios-do-alecrim#:~:text=Ele%20tem%20propriedades%20antimicrobianas%2C%20digestivas,doen%C3%A7as%20degenerativas%2C%20como%20o%20c%C3%A2ncer.
Chá de capim santo/erva cidreira – são os mais comuns e com
valor mais acessível. Muitas pessoas relatam com o aroma do Capim Santo já
remete a retiros espirituais e o de erva doce ao carinho das avós.
A verdade é que os chás nos trazem memórias agradáveis na
maioria das vezes e a sensação de cuidado.
Homeopatias: pensemos um pouco. Tudo isso tem despertado cada vez mais a vingança. “Eles
vão pagar”. “Eles merecem”. Além de inúmeras outras expressões semelhantes vão
trazer à tona essas sensações. Não vamos esquecer que os sentimentos e suas
reações trazem as personalidades homeopáticas no holofote das reações de
adoecimento.
O despertar vingativo
não vem sozinho, o desejo crescente de vingança pelo feito guardado também
aparece no mesmo meandro. Vingativo e rancoroso: Chamomilla, Sépia, Nitri
acid., Nux Vômica e Cocculus. A isso acrescentamos uma pergunta que tem
sido feita constantemente: Como as crianças palestinas se sentirão? Como os
mais velhos responderão e passarão adiante esses sentimentos de anos no regime
a que foram impostos? O fato é que quando vemos adultos e crianças com cargas
enormes de ódio e vingança, sabemos que se trata de herança e por isso
perguntamos sempre: quando esse sentimento se enraizou?
Para os indignados: quando a Ignátia Amara não suporta
de forma alguma tanta injustiça. Dá reação a doença, ela segue rápido.
Para o Desanimado e
triste - Stannum, Iodum, Aurum met. – fazendo uma sinalização aqui para
o Aurum met. Que por vezes pode entrar num mundo
Para
as questões enraizadas: Nux Vômica que dói o estômago e embola a comida
e para a memória de elefante “Pode demorar o tempo que for, eu não me esqueço” –
Arsenicun é exatamente assim.
Para a
toxidade: vale ver a raiva cega. https://homeopatiaparamulheres.blogspot.com/2010/12/staphysagria-e-raiva-cega.html
Ora, se soubermos olhar bem, poderemos separar
pérolas na identificação dessa medicação. Sem adentrar muito no assunto, mas
abordando de forma detalhada, Staphysagria pode ser encaixada com
perfeição no ditado popular: “a raiva cega” ou ainda a “supressão dos
sentimentos”. Se não cega deforma e traz muitos transtornos aos olhos
de um Staphysagria.
As duas principais características da imagem psicológica de
Staphysagria são a opressão e a vítima. Staphysagria na sua personalidade têm
problemas com a injustiça, não suporta injustiça causada a si mesma ou a
pessoas com quem convive. No entanto eles não se levantam contra esta
injustiça, e acabam por reagir com alguma aceitação passiva. Eles têm a
sensação de que defendê-los é impossível, ou os constantes ataques a sua
personalidade ou simplesmente se torna demasiadamente cansado para responder de
forma firme e entrar numa discussão. O que nos remete muito as duras penas que
essa personalidade homeopática está sujeita ao acompanhar de perto o sofrimento
de alguns dos seus neste momento ou a longo prazo.
Causticun - “O Embaixador ou embaixatriz dos injustiçados”. Aquele que
busca justiça apoiado em: Sulphur e sua genialidade, Calcária
Carbônica e seu senso de proteção e cuidado e kali Carbônica com a
sua sensibilidade e senso de justiça. Veja mais: https://homeopatiaparamulheres.blogspot.com/2012/09/causticum-um-heroi-uma-heroina-dos-dias.html
Anotações finais:
A herança comportamental
no caso de grupos familiares, pode expressar a onda de violência que crianças
muito pequenas, vem repetindo nas redes sociais. Um discurso adulto de ódio. Em
contrapartida, algumas crianças vem sendo ameaçadas pela cor da roupa ou pela
opção política dos pais. Temos também o exemplo dos pais que assustaram por ter
de cuidar do enterro da filha assassinada por um grupo nazista e além de tudo,
descobrir que ela e o namorado pertenciam a um grupo com a mesma ideologia,
entretanto rival. O ódio coletivo, o ódio do mesmo idealismo, resultou na morte
do casal. A construção de uma ideologia nem sempre tem traços familiares, mas
de convivência com a sociedade em que o indivíduo escolheu para viver. (Quando
em 2016 discutíamos sobre o crescente aumento do ódio).
Em 2023, tudo isso dói e
muito. Por vezes não podemos passar pela tela do celular e nem da TV e isso nos
coloca na poltrona ou nas ruas.
Entretanto, é importante
salientar que o cuidado com as palavras não pode nos impedir de falar a
realidade e tão pouco podemos entrar dentro de um armário e nos sentirmos
protegido. Os tempos que estamos vivendo, possuem fatores de adoecimento físico
e mental absurdamente reais e chegaram para causar estragos imensos. Prevenir
não é evitar que aconteça, mas, trabalhar para que esteja sempre um passo à
frente de qualquer estrutura adoecedora ou mortal.
Acolher e abraçar as
pessoas, pensar positivo e sorrir, pode ser clichê, entretanto, é essencial
para a saúde mental. Escolha o que ler, quando ler e de que forma ler. As
informações seguras – oficiais dos reais passos nesse conflito, são muito
importantes. O fim do mundo, provavelmente não chegará... lembra do ano 2.000?
Ainda estamos aqui. Cuide-se e se perceber que está acima de suas
possibilidades, procure ajuda.
Não é comum:
Não permita que a
violência se torne paisagem, coisa comum ou algo que está distante e por isso
não precisa fazer parte do seu cotidiano.
Estamos assistindo todos
os dias, desde o dia 7 de outubro, um verdadeiro massacre. Televisionado com
imagens ao vivo. Homens, mulheres e crianças, privados de sua condição humana.
Famílias angustiadas com o estado físico de seus entes queridos. Os dias têm
sido de terror e disso ninguém duvida.
Aos médicos,
socorristas, enfermeiros e administrativo dos hospitais que ainda resistem – 12
hospitais já foram destruídos e até o dia 13 de novembro eram mais de 110
profissionais da saúde, mortos E CONTANDO.
Inúmeras escolas
totalmente destruídas e milhares de crianças mortas, mais de 5.500.
A dor dos desaparecidos,
dos que estão embaixo dos escombros. Já passamos inúmeras vezes por isso no
Brasil, em especial nas situações de catástrofes e agora, tudo isso é um
gatilho imenso.
“Não ter para onde ir” e
ter a certeza da morte. A desesperança de quem se encontra em tais situações,
faz parte dos cuidados que precisamos ter com o outro e em muitas situações,
isso remete as nossas vidas cotidianas. A impunidade também é gatilho.
Com tudo isso, estamos
assistindo os Discursos de ódio e a volta galopante das fakeNews. A
distorção da realidade e as informações tendenciosas nos fazem pensar em como
conhecer a história, buscar canais livres de matérias compradas e opiniões que
afastam o mundo e as pessoas do sentimento de fraternidade, consternação e cuidado
são perigosos demais.
Madre Tereza de Calcutá dizia que “Construir demora, destruir leva apenas 1 minuto”. Claro que mais uma vez ela estava correta. O escritor Saramago também fez uma previsão que ora se concretiza. É atribuída a ele a frase: "Um dia se fará a história do sofrimento do povo palestino e ela será um monumento à indignidade e a covardia dos povos."
Sabemos que a ansiedade
e a depressão estão no topo da lista, entretanto, o que nos chama a atenção
quando analisamos pela ótica da Homeopatia é que a mudança de personalidade, a
apatia ou seu oposto – no caso, as emoções a flor da pele.
Os efeitos da guerra são
imensos para todo o mundo que acompanha – no caso atual, ele ganha um requinte
de crueldade maior: Está sendo televisionado, está ao vivo. O impacto da
violência ocupa uma dimensão muito maior e sem filtros. Estar lá ou estar longe,
acaba por trazer a veracidade das coisas em tempo real. Creio que os efeitos pós-traumáticos
podem se estender a todos, reservadas as proporções.
Não podemos agir no
momento exato e nem no lugar atual. Não tem como chegar lá. Não há comida, não há
água e nem condições de passar em meio a bombas e a franco atiradores. Resumindo:
cuidemos do entorno possível e cada um cuide de se juntar as suas energias
positivas, as suas crenças e suas devoções e enviar uma corrente de
solidariedade aos médicos, civis e tantos, que terão de enfrentar, se não morrerem,
para o resto de suas vidas, os efeitos de tudo isso. E eles virão.
Construir um remédio e
uma vacina para o ódio e as consequências nocivas e futuras de quem sobrevive a
uma guerra de proporções tão brutais e desumanas, será o nosso grande desafio e
não sei se conseguiremos fazê-lo. Passa por acreditarmos em um corredor
humanitário permanente. Onde o respeito pela pessoa e pelo planeta que vivemos
esteja em primeiro lugar. Um lugar absoluto de cuidado com as crianças,
lembrando que elas não são o futuro, elas são o presente, elas são o agora.
Onde quer que estejam. AGORA.
Elisa Costa
Bacharel em Ciências da Saúde Natural – Terapeuta Acupunturista, Homeopata e Especialista em Fitoterapia pela Universidade de Leon – ES e Tec. Superior de Práticas Integrativas e Complementares. Especialista em Liderança Executiva para o Desenvolvimento da Primeira Infância – INSPER e mulher.