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MULHERIDADES - CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

 Assunto: 341ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde.

Mulheridades: Somos muitas, somos múltiplas.

Joana e Ludmila estavam na mesa e assim, nos três falamos um pouco, cada qual do seu jeito, sobre saúde, doença e esquecimento. Uma agenda que atravessa  a vida de muitas mulheres em todas as suas fases geracionais. A realidade dessas mulheres são uma fotografia de um país que não respeita a nossa existência. Melheres em situação de rua e mulheres trans, lutam todos os dias, muitas vezes, apenas para continuar respirando. 

A AMSK/Brasil apresentou pontos de reflexão sobre a saúde da mulher de etnia romani - não baseada em opinião, mas, em fatos, pesquisa e anos de trabalho. A vida dessas mulheres, jovens e crianças não é brincadeira e nem em repetições desinformadas. A escuta qualificada respeita trabalhos sérios e é tempo de trazer a paz e afastar o ódio...

... essa é uma pequena parte de um trabalho de resistência e respeito pela vida. 

http://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/2961-mulheridades-somos-muitas-somos-multiplas-foi-destaque-nos-debates-da-341-reuniao-ordinaria-do-cns

Mulher em movimento: História, memória e saúde das mulheres de etnia romani.

No ano de 2000 a verificação ou constatação de que cuidar da expressão corporal, da loucura do cotidiano e de suas múltiplas formas de adoecimento, especialmente entre as mulheres e os idosos se tornou uma preocupação. Pelos olhos de uma parteira, na época com seus 70 e poucos anos, nasce a ideia e os relatos de observação cotidiana com as mulheres, suas vidas e suas existências.

Há época, começamos a pensar e como já tínhamos a experiencia de campo de muitas dessas dificuldades, começamos as pesquisas. Somente em 2004 nasce o grupo Sara Kali de danças romani. O objetivo era contar a história e as tantas memórias através da dança, combater misticismos e estereótipos. Em 2009 nasce a face jurídica da organização e com ela o olhar dessas mulheres que “ousaram pensar nas memórias”.

O tema “Saúde dessas muitas mulheres” nasce aí – e as coletas de informação também.

Esse é um pequeno trecho atual dessa caminhada. O Mee Seem Rromí – O Dosta, nasce na sua concretude em 2016 e desafia pensar essas mulheres dentro dos seus territórios e suas várias formas de ser mulher. Mulheres de etnia romani.

Objetivo:

Ampliar o conhecimento sobre as diversas formas de ser uma mulher de etnia romani, seus múltiplos recortes étnicos raciais e garantir o direito humano e a existência digna em todas as suas fases geracionais; combater o estereótipo; agregar novas formas de investigação e construir nossas próprias referencias.

Metodologia:

Escuta qualificada de várias mulheres e suas realidades in lócuo; Chamamento dos troncos ou braços familiares/étnicos; Conceito de experiencia de Schutz; Conceito Maylê de escuta (consiste em abraçar e acolher todas as especificidades).

Especificidades:

ü  Coleta ampla de material de pesquisa, leituras diversas de mídia, análise das correlações históricas sobre violências – No Brasil, análise de micro dados (IBGE – 2009, 2011, 2014), CadÙnico (desde o lançamento), Ouvidoria dos SUS (2011, 2012, 2014) Disque 100 até 2018), denúncias recebidas pela AMSK/Brasil e parceiras (contínuo).

ü  Construção de um grupo de estudos dessas mulheres.

ü  Estudo e formação continuada, ampliação do Conceito de controle e participação social.

 

#Dosta   #OpréRomiale  #FeminismoRomani   #NuncaMaisSilenciadas  #BrasilRomani

Dados X políticas públicas

          Números mágicos                                                                      imediatismo


acolhimento                                           rromafobia/anticiganismo

*racismo estrutural e institucional (racismo epistemológico)                                         

 Estereótipo

              Aculturamento                                    Educação

 

Chegam as escutas e a Política – de 2013 à 2018 e a ideia é clara: “Somos muitas, somos diferentes, somos mulheres.”

Objetivo principal da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani – PORTARIA Nº 4.384, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2018, é garantir que sejam respeitadas as diferenças de território e as necessidades que cada estado e município tem para atender as diferentes formas de se organizar, de morar e de viver.

Quando a gente respeita o estado e o município em que aquelas comunidades vivem, fica mais fácil se ocupar das vacinas, dos acompanhamentos para as crianças e idosos, as campanhas de saúde do governo federal e dos estados. Além de garantir a vigilância sanitária e a segurança alimentar. O senso de dar o direito de ser e ocupar seu espaço, a partir da sua realidade.


Qualquer um que leia a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani, goste dela ou não, poderá ver o respeito pelo território e pela realidade vivida. Equidade e humanidade. Não há copia e cola, há o exercício de enxergar o outro e se enxergar dentro do direito de viver com dignidade, respeitando as imensas lacunas e desafios, previstos, inclusive no próprio texto da portaria.

A COVID 19 – CORONAVIRUS

Em 19 de março de 2020, várias organizações entraram no Ministério Público Federal, solicitando que fosse visto e preparado uma ação emergencial, um protocolo para o atendimento dessa parcela da população brasileira. Nesse ofício, solicitamos também que o Ministério da Mulher, Direitos Humanos e família, além da Secretaria da Criança e do adolescente ajudassem a construir essas saídas. A resposta foi tardia e assim sendo em 20 de abril, essas mesmas organizações fizemos um apelo ao Conselho Nacional de Saúde e eles prontamente nos responderam, com a RECOMENDAÇÃO Nº 035, DE 11 DE MAIO DE 2020.

Ou seja, nós temos todos os protocolos, portarias, reconhecimentos necessários. Temos uma política de saúde para aplicar nos estados e municípios.

Precisamos agora de coerência e responsabilidade dos estados e municípios. Precisamos de vontade política para colocar em práticas. Precisamos vencer o racismo estrutural, o racismo institucional, a Rromafobia e o anticiganismo.

 

A AMSK/Brasil, agradece e reconhece publicamente o apoio do Conselho Nacional de Saúde – CNS, em todos os momentos de luta e reafirma que espaços de controle e participação social são espaços de dignidade humana e de profundo esforço de escuta política e social. Sempre o nosso muito obrigada.

 Protocolo atual – 2016...contínuo

(compreendendo um território transnacional): DF, Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Pará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. Portugal, Espanha, Suécia, Alemanha, Argentina, Uruguai.

2016 ...

ü mulheres na coordenação da agenda (13)

2016 e 2017...

ü 2 projetos que viram programas (2018): o Dosta e o Sal da Terra (publicado)

                                   2019 ...

ü Nascem as parcerias internacionais para análise de texto e publicação sobre o tema.

                                                     2020 e 2021 ...

ü Relatórios publicados – www.amsk.org.br

                                                                                2022 e 2023 ...

ü Média de 4 denúncias semanais

ü Escuta qualificada – 12 casos em andamento – novos olhares;

ü Publicação do Mãe em Movimento (Saúde da mãe e a Primeira Infância).

 

Pensar na atenção primária é começar pela porta de entrada: (nas duas vias)

ü
Conhecer – acolher/escutar – respeitar

Pensar em atenção secundária é combater as Fake News: (nas duas vias)

ü Informar – respeitar – participar/educação

 

Muito provavelmente, as críticas ganham em larga escala tudo o que se pretende fazer em termos de saúde. Não está errado, entretanto, se ela vier acompanhada de ódio ao diferente, controle de massa (aculturamento) e desinformação, vamos pagar um preço alto por isso.

Os séculos de preconceito e desinformação, construíram uma visão de que saúde é apenas a ausência da doença em si e impediram a visão de que o direito e a dignidade humana fazem parte dessa mesma saúde.

 

Água Potável                 Cirurgias eletivas              Especialidades Médicas                 viver sem violência

              Moradia digna                    trabalho decente          educação e respeito         planejamento familiar

Informação de qualidade                    Alimentação de qualidade                  Dados, informação e pesquisa

 

Se não compreendermos que lutar pela saúde é garantir a soberania e a existência dos Povos Romani/Ciganos, vamos continuar afastados de políticas públicas assertivas e fadados a ampliar a cada dia que passa, o abismo que já existe e que condena, homens, mulheres e crianças ao desaparecimento lento pela desigualdade.



“2023 ... 2030 – sem números não existimos, porque detrás de cada número existe uma pessoa.” AMSK/Brasil

Registro civil nas maternidades;

Direito a identificação e autodeclaração nos postos de atendimentos, emergências e hospitais;

Pesquisas sérias, avaliações e investigações clínicas;

Estudo sobre a média de vida dessas mulheres e o combate à violência étnica obstétrica;

Uma ampla campanha para combater a desinformação e humanizar os centros de atendimento.

 

Para além das Carmens e Esmeraldas, para muito além do mundo mágico de sais de sete metro e mulheres sedutoras, atravessando os contos das infindáveis caravanas, mulheres reais vêm rompendo ventos e dizendo “Dosta” – basta. Existimos e somos reais. Problemas como suicídio, saúde mental – em todos os seus agravos, maternidade e violência patrimonial, familiar e institucional são reais. A cada ano, mais e mais mulheres estão sustentando suas famílias e não podemos fechar os olhos para uma realidade que fere de morte a todas nós.

Se querem saber sobre nossa religião, nossos ritos de vida e de morte, nossa língua e nossos casamentos, primeiro nos enxerguem como pessoas humanas e caminhem conosco para que possamos honrar nossa existência.

 

Elisa Costa – Presidenta da AMSK/Brasil

AMSK/Brasil 14/04/2023 – Pleno do CNS