Os médicos e o Dr. Google
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Nos Estados
Unidos, 70% dos indivíduos com alguma doença crônica fazem uso de alguma
alternativa na esperança de melhorar seu estado de saúde, diminuir
sintomas ou ajudar na possibilidade de cura. Se isso resulta em algum
benefício ou em algum prejuízo para o paciente é uma questão
controversa, existem defensores e críticos totais contra essa atitude
dos pacientes.
Alguns médicos
são totalmente céticos com relação a qualquer alternativa que não sejam
os medicamentos por eles receitados, alternativas essas que podem ser
um simples café, beber água, fazer uso de uma vitamina, um chá,
freqüentar uma igreja, fazer alguma terapia oriental, etc., falam que
somente com evidências científicas comprovadas é possível ter segurança
no tratamento de qualquer enfermidade.
Esses médicos,
afortunadamente menos a cada dia, querem um paciente mudo, que não faça
perguntas, recomendam não freqüentar grupos de apoio formados por
pacientes, que não devem procurar na internet informações no Dr. Google ou páginas Web que não sejam as da sua sociedade médica, enfim, querem o domínio total sobre a vida do pobre do paciente.
Curioso é que, em geral, são esses mesmos médicos aqueles que não se interessam por conhecer como é a vida do paciente. No consultório, a cadeira do paciente é freqüentemente mais baixa que a do médico,
raramente pergunta em que o paciente trabalha, qual a estrutura
familiar, os problemas econômicos que possam estar acontecendo neste
momento da vida, se o diagnostico alterou os planos futuros, nem sequer
querem saber do estado emocional que a enfermidade está provocando.
Devem pensar que do outro lado da mesa se encontra uma "caixinha doente" e não conseguem ver que o que há é um ser humano completo e complexo que nesse momento o procurou para tratar uma enfermidade que também afeta sua alma e seu espirito.
Cabe então
questionar se esse tipo de profissional é um bom médico, se está
realmente interessado no paciente ou se somente se interessa em acabar
com a enfermidade que é sua especialidade sem querer saber se com isso
estará causando algum problema em outras áreas da vida do paciente, mas
que por não ser de sua especialidade não são de seu interesse.
Esse médico é um mau tipo ou simplesmente é um profissional que parou no tempo e no espaço, pensando tal qual poucos anos atrás quando a informação médica estava fora do alcance da população, quando somente circulava em compêndios médicos ou em publicações científicas só para assinantes.
Penso que,
"por culpa da profissão e do excesso de trabalho", não tiveram tempo de
compreender que o mundo está mudando, que estamos em um momento onde a
informação, seja boa ou má, está circulando rapidamente e se encontra ao
alcance de um simples apertar do botão de um computador, um telefone
celular ou um tablet, aparelhos que até as crianças sabem operar, mas
que "por culpa da profissão e do excesso de trabalho" esse tipo de
médico não se deu conta de sua existência.
Quando um
paciente recebe diversas informações e faz uso de algum tipo de
alternativa por conta própria, sem comentar com o médico, assume que
está correndo riscos também. Deve entender que a informação encontrada
na internet muitas vezes é equivocada ou com interesse comercial, mas
existindo empatia com o médico e por parte deste um pouco de paciência
para escutar o paciente, responder (e fazer) perguntas, certamente a
relação será bem melhor, menos distante, menos fria e, o resultado
terapêutico resultará em maiores possibilidades de cura do paciente.
Ao paciente que não encontra um médico que o vê e trata como um ser humano completo e complexo fica a alternativa de procurar outro profissional, pois são maioria aqueles que atendem de forma correta, humana e atualizados com a moderna tecnologia da informação, muitos inclusive trabalham no sistema público de saúde.
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Carlos Varaldo é presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite.
Email hepato@hepato.com