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ALMA DE PROFESSOR


Uma alma, um Professor.

Ontem aprendi muitas coisas. Minha avó materna me ensinou a ascender o fogo, disse que em breve sairia com meu Pai e precisa aprender como se fazia isso ... não vou passar vergonha pensei. Dito e certo, ponto pra ela, minha avó. Foi o que o meu pai me pediu: ascenda o fogo Jorge, hoje vamos fazer um assado juntos de dar inveja aos da sua mãe e os da sua avó.
Aos 6 anos não se dá conta do que é isso na vida adulta, eu fiz, gostei e quase trinta anos depois repeti com minha filha.

Anos depois, acho que uns dez, o meu avô paterno, me ensinava a pescar, de repente passou mal e o levamos para o hospital. Era o coração. Com cuidados especiais poderia ficar em casa ... onde? Cedi o quarto e me mudei pra biblioteca, pro sofá e com direito a televisão exclusiva. Depois de 5 dias lá estava eu dormindo nos pés da cama do meu avô, gostava de ler e assim eu lia pra ele. Isso definiria meus primeiros passos na vida profissional e pessoal. O livro predileto do meu avô? 

Li dois livros que provavelmente não teriam me guiado se não fossem nessa época – O Conde de Monte Cristo e o Colar da Rainha, ambos de Alexandre Dumas – Pai. Vitor Hugo era sempre lembrado nas questões sobre a morte, vida e liberdade. Sim, minha família era de revolucionários.

Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (…) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos.

Victor Hugo, 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo).

Voltei a dormir no meu quarto com a morte do meu avô, já próximo de entrar na faculdade. Levei os livros comigo.
Cinco anos depois morre meu pai, meu terceiro professor.
Me formei em matemática, medicina e literatura.
Leciono, clinico e escrevo.


Ainda recolho gravetos para ascender à fogueira, a fama do melhor assado agora é minha; realmente me apaixonei pela minha professora de literatura.
Aprendi com meu avô que existem pessoas que nos modificam por dentro e que para aproveitar isso, deveria fazer de cada professor um amigo, só assim transformaria as coisas indomáveis em possibilidades. Os professores são os mestres das possibilidades.
Meu pai teve mais alunos chorando por ele no seu velório que os amigos de final de semana. Aprendi com todos eles que não substituímos as pessoas porque cada ensinamento é transmitido conforme a alma de quem o faz, por isso é sempre diferente.

Morrerei aluno, médico e poeta, me nego a deixar essa posição,
Morrerei professor, me nego a abandonar minha alma.
No fundo é a alma que carrega cada professor, cada médico, cada poeta.
É o que se é.
Cidadão do mundo,
eternos alunos,
agradecidamente; professor.

zerafim
Cidadão do Mundo
Homeopatas dos Pés Descalços